Crianças podem ajudar os pais em tarefas domésticas? Veja o que dizem especialistas

De práticas simples, como recolher os brinquedos, a mais complexas, como arrumar a sala, o importante é criar nos pitocos o hábito da colaboração e da responsabilidade

É desde pequeno que se aprende a ser responsável, e exemplo eficaz vem de casa. Por isso, não é incomum ver crianças participando das tarefas domésticas com pais e irmãos. De práticas simples, como recolher os brinquedos, a mais complexas, como colocar a mesa, criar nos pitocos o hábito da colaboração não só é saudável como importante para a formação do adulto que ele será. Veja o que dizem especialistas e como faz uma família da Zona Norte da Capital.

Exemplo dentro de casa

Na casa da família Marques Velasques, no Bairro Floresta, em Porto Alegre, a criançada pega junto, sob o comando da mãe, Gabriela, 31 anos, e do pai, Átila, 34. Graça, quatro aninhos, Filipe, oito, e Flora, dez, revezam as tarefas rotineiras. Enquanto a caçula está aprendendo a guardar seus brinquedos e livrinhos depois de usá-los, os manos mais velhos já se aventuram em atividades que exigem mais empenho, como arrumar a sala, colocar a mesa e dar alimento ao gato.

E para que ninguém fique em desvantagem na hora de dividir as funções, uma lista fixada na geladeira especifica o que é dever de cada um.

– Antes, eles reclamavam que um fazia mais do que o outro, ou que uma tarefa era mais difícil do que a outra. Então, resolvemos especificar as tarefas, de forma equivalente e com a mesma quantidade para cada um – explica a mãe, que dá o exemplo:

– Eu sempre fiz, desde pequena, e passo isso para os meus filhos, porque, do contrário, na vida adulta, vai ser um sofrimento para eles. Fazemos tudo juntos, eles se espelham no que fazemos.

Para que tudo ande nos trilhos, há uma negociação.

– Se a gente não fizer, desconta da mesada ou do tempo pra usar o celular (risos) – entrega Flora, destacando o que não gosta:

– Colocar comida pro gato é o mais chato de fazer.Já Filipe preferia fugir de outra função:

– Limpar a sala é o pior, arrumar a bagunça dos outros.

Contribuição para o futuro

De acordo com a professora de Psicologia da Feevale Michele Terres Trindade, na infância, mais importante do que o resultado é o aprendizado.

– Tudo que ela aprende quando pequena vai repetir na vida adulta. Então, é importante mostrar o significado da atividade: contribuir com a família, ter espírito colaborativo. Não devemos fazer disso um sofrimento, mas um momento lúdico – explica.

Já o pediatra Manuel Ruttkay Pereira, professor das faculdades de Medicina da Ufrgs e da Puc, ressalta que estar inserido nas práticas familiares permite que a criança se desenvolva de forma a aceitar melhor seus papéis na vida adulta dentro da sociedade:

– Ela vai entendendo a hierarquização, que tem responsabilidades diferenciadas de pai, mãe e dela própria. E, no nosso ambiente de trabalho e no convívio com a sociedade, isso se repete diariamente. Nesse sentido, essas práticas ajudam nessa compreensão e aceitação de que ela faz parte de uma comunidade, que não vive sozinha. Isso será positivo em qualquer relacionamento que ela tiver no futuro.

Como eles podem ajudar?

Os especialistas concordam que não há regras específicas para destacar tarefas às crianças, mas que é necessário, sim, ter cuidado e atenção ao escolher atividades que sejam apropriadas à faixa etária e à capacidade de compreensão dos pequenos. E ressaltam que é importante tratá-los sempre como auxiliares nas tarefas, sem jamais fazer delas serviçais. Confira!

— De 2 a 3 anos: organizar os brinquedos, guardar o que tira do lugar. Colocar água numa plantinha. 

— De 4 a 5: brincar com uma vassourinha pequena, imitando o ato de varrer. Auxiliar a levar a louça suja da mesa para a pia e as roupas sujas até o cesto. Guardar os sapatos espalhados.

— De 6 a 8: já pode ganhar tarefas mais complexas, como colocar e retirar a mesa, organizar o quarto, estender a cama. Dar alimento aos bichinhos de estimação e organizar o material escolar.

— A partir dos 9: pode tirar o pó de objetos, varrer cômodos da casa, ajudar a recolher o lixo e guardar as compras do mercado.

— Sinal vermelho: tarefas que envolvam carregar peso e contato com áreas de risco, como a cozinha, que concentra fogão, eletrodomésticos, talheres e grãos (arroz, milho e feijão, por exemplo, que podem ser inalados e causar asfixia), não são recomendadas antes da adolescência, portanto, a partir dos 13 anos, de acordo com o pediatra Manuel Ruttkay Pereira. Segundo ele, “cozinha não é lugar de criança, sob hipótese alguma”.

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